Os Significados das Casas em Astrologia Tradicional – Síntese Final

– Os Bons e Maus Lugares do Céu

“A seguir estão os bons lugares em que é necessário que eles [ou seja, os planetas ou zoidia] estejam colocados. Primeiro, o Horoskopos; segundo, o Meio do Céu; 3º, a Boa Divindade; 4ª Boa Sorte; depois disso, o Descendente; então, o Pivô sob a terra; depois de tudo, o nono lugar, o assim chamado Deus. E esses são os bons lugares.”

Na obra de Hephaistio de Tebas intitulada “Apotelesmática” no Livro 1, na tradução de Robert Schmidt e edição de Robert Hand, do Projeto Hindsight, vemos o trecho acima. Neste trecho o autor cita as Casas que são consideradas Boas, ele se refere à Casa como “local/lugar”. O Primeiro Bom Lugar seria a Casa 1 ou Ascendente, também chamado de Horóskopos que seria algo como “Marcador do Tempo”. O Segundo Bom Lugar seria então a Décima Casa – O Meio do Céu. O terceiro bom lugar seria a casa da “Boa Divindade”, em outras obras chamada de “Bom Espírito” – uma referência à Décima Primeira casa. A quarta boa casa, nesta ordem, seria a “Boa Fortuna”, a quinta casa. E então depois de todas estas casas, daí vem o Descendente – a Sétima Casa, como sendo o quinto Bom Local. O Sexto bom lugar seria o ângulo/pivô sob a terra – ou seja – a Quarta Casa à partir do Ascendente e por último a Nona Casa, chamada de “Deus”, sendo o Oitavo bom Local. As casas boas e afortunadas então seriam, nesta ordem de importância, a casa 1, 10, 11, 5, 7,4 e 9.

“ Os maus lugares são o segundo, o terceiro à partir do Horoskopos, e o oitavo, os dois restantes, que são o sexto e o décimo segundo, são os piores.”

Segundo Hephaistos os Maus Lugares seriam a casa 2, 3, 8, 6 e 12 nesta ordem. Sendo que a Sexta e a Décima Segunda são as piores. Os Quatro ângulos são bons, bem como as casas sucedentes ao Meio do Céu (casa 10) e ao Fundo do Céu (casa 4), que seriam a 11 e 5. Daí então ele leva em conta a Nona Casa, Júbilo do Sol, que forma trígono ao Ascendente. Já a Segunda casa, que na obra de Vettius Valens por exemplo é chamada Portal do Inferno, é considerado um mal local, provavelmente por estar em aversão ao ascendente – assim como as casas 6, 8 e 12 que também são casas desafortunadas e se encontram em aversão ao Ascendente. Já a terceira casa que é inclusa nesta lista é considerada Cadente, assim como as casas 6 e 12. A única casa cadente, que se salvaria, segundo o autor nos apresenta, seria a Casa 9 – muito provavelmente por ser o Local de Júbilo do Sol, a casa 9 inclusive é um Local Hylegiaco, a maioria dos bons lugares são considerados locais hylegiacos, ou seja, quando o Luminar dominante da natividade nelas estão posicionados pode ser considerado o Hyleg da natividade, o Prorrogador da vida ou Doador da Vida, e são casas afortunadas que garantem a expressão da Vitalidade que os luminares carregam. Contudo, as casas que carregam atributos mais difíceis são a 8, 6 e 12, sendo que a 6 e 12 são ainda piores que a 8. A Segunda e terceira casa, entram na lista de “maus lugares” muito provavelmente devido à condição de aversão e cadência à partir do ascendente, o que pode tornar débil a expressão do planeta nelas posicionados, mas não carregam em si mesmas significados ruins como a Casa 8 que se associa com a Morte, a 6 com Doenças e a 12 com Cativeiro e Exílio por exemplo.

Cada uma das 12 casas é ocupada por um Signo, o Regente deste signo é considerado o Regente da Casa e será fundamental na investigação dos temas desta casa. O regente de uma casa essencialmente dignificado e colocado numa destas casas chamadas “Bons Lugares” pressagia bem para os temas da casa na natividade, em maus lugares o contrário. Planetas posicionados nas casas afetam as casas, para bom ou para mau, dependendo se é essencialmente um benéfico ou maléfico, bem como acidentalmente. Por exemplo: Ter o Regente da Casa 6 ou 12, ainda que seja um planeta benéfico essencialmente, quadrando o Regente do Ascendente é um mal sinal.

Al-Qabisi, Astrólogo Árabe, diz que os Ângulos significam “força e avanço”, mas as casas cadentes significam “fraqueza e recuo”, com exceção das casas 9 e 3 que segundo o autor, significa coisas públicas, enquanto as casas 6 e 12 significam “ocultação e estar encoberto (escondido) e a baixa qualidade das coisas”. Mas os Ângulos e seus Regentes significam grandeza de honra e de valor e fortuna, e estar estimulado e longe de cair; e a presença de cadência é o contrário da fortuna: isto é, desgraça e infortúnio.

Já as casas sucedentes aos ângulos significam média fortuna, enquanto os ângulos significam grande fortuna, a casa 11 é sucedente ao Meio do Céu e significa média fortuna proveniente de amigos e de confiança ou fé. A casa 5, que sucede o Fundo do Céu significa média fortuna proveniente de doações/presentes e reverência, também crianças e alegria. A casa 2, que sucede o Ascendente média fortuna por ativos (bens, dinheiro) e proveniente de suboficiais. A casa 8, que sucede o Descendente significa média fortuna proveniente de herança e coisas escondidas, ainda segundo Alcabitius.

– Tríades Angulares e as Épocas da Vida

Como vimos ao longo desta série sobre as 12 casas, cada uma delas se associa também a um período da vida, que para a Astrologia Árabe seria como segue na Imagem anexada, segundo Al-Qabisi.

– Primeira Época:
Casa 12: Antes do nascimento;
Casa 1: Juventude;
Casa 2: Fim da juventude;

– Segunda Época:
Casa 9: Início da meia-idade;
Casa 10: Meia-idade;
Casa 11: Fim da Idade Média;

– Terceira Época:
Casa 6: Antes da velhice;
Casa 7: Em direção à velhice;
Casa 8: Fim da velhice;

– Quarta Época:
Casa 3: Vida antes da morte;
Casa 4: Fim da vida;
Casa 5: Imagem após a morte

No esquema acima, os períodos tem seu início nas casas cadentes ao ângulo, seu ponto principal marcado pelo ângulo e o que vem a seguir sinalizado pela casa que sucede ao ângulo.

– Os Locais de Júbilo dos Planetas

Abu Mashar e Alcabitius dizem que a Primeira Casa é alegria de Mercúrio, a terceira da Lua, a Quinta de Vênus, a Sexta de Marte, a Nona do Sol, A Décima Primeira de Júpiter e a Décima Segunda de Saturno. Cada um dos planetas possui seu júbilo, um local em que se “alegra” e recebe força acidental. Sendo capaz de expressar sua virtude essencial em conformidade com a natureza da casa, de modo mais pleno. Marte se rejubila na sexta casa, isso não diminui seu malefício ao contrário do que tem se popularizado, Marte na sexta casa consegue expressar com maior severidade os males significados por si e por esta casa, como Doenças Agudas e Acidentes. Saturno na décima segunda casa, em Júbilo, não fica menos maléfico ou representa seus significados de modo mais suave, pelo contrário, sua “alegria” consiste em representar com maior severidade Doenças Crônicas, Restrições, Aprisionamentos e Inimigos. Os Benéficos por sua vez, conseguem expressar seus benefícios de modo mais acentuado. Vênus com a Quinta Casa o prazer, arte, beleza, fruição e filhos. Júpiter com a décima primeira: amigos, fé, benesses, bênçãos, aquisição, ganhos e lucro. O Sol, o luminar do dia, se rejubila na Casa 9, a Casa de Deus, sua “luz” aqui se sintoniza com o sentido de Sabedoria, Filosofia, Religião, Oráculos que esta casa carrega. A Lua em relação à Terceira Casa conecta-se com uma forma prática e empírica da prática religiosa, também é o Corpo Celeste mais rápido do céu e se associa nesta casa também com Viagens. Mercúrio se rejubila no Ascendente, a ponte entre Céu e Terra, o “entre-mundos”, o intermédio entre o Superior e Inferior, ele que possui natureza dupla, é hermafrodita, não é benéfico, nem maléfico, e assim como o Ascendente se relaciona à Mente.

Para finalizar esta série de textos sobre as casas, gostaria de esclarecer algo, que tenho notado estar em equívoco e sendo amplamente disseminado: a associação caldaica dos planetas com as casas. Neste sentido Saturno o primeiro planeta no esquema de organização da Ordem Caldaica, se associa com a Primeira Casa, Júpiter com a Segunda, Marte com a Terceira, Sol com a Quarta, Vênus com a Quinta, Mercúrio com a Sexta, Lua com a Sétima, Saturno com a oitava, Júpiter com a nona, Marte com a décima, Sol com a décima primeira, Vênus com a décima segunda. Esta associação é muito válida e tradicional. Contudo, existe aqui uma relação SIMBÓLICA de SIGNIFICADOS entre estas casas e estes planetas que recebem atribuições comuns. No Entanto é muito importante deixar claro que estes Planetas nestas casas não recebem nenhum tipo de dignidade acidental, como no caso dos Júbilos. Os significados comuns aqui citados são, por exemplo: Saturno e Casa 1 – Corpo, Pele, Materialização do Ser num Corpo Físico, Delimitando o Espirito e o Restringindo à um Corpo Material. O Ascendente condensa o espírito do momento, o espírito do nativo, o espírito da questão – essa condensação, materialidade, forma, corpo, limite – são associados à Saturno, o primeiro planeta na ordem caldaica, que dá forma e matéria às coisas. Júpiter se relaciona com prosperidade, riqueza, bens, posses, são significados comuns à segunda casa. Marte é significador essencial de Irmãos e Viagens, bem como a terceira casa. O Sol é significador essencial do Pai, assim como a Quarta Casa e assim por diante. Contudo, estas casas não são Júbilo destes planetas e nem domicílio, nem nada do tipo, e não podem ser consideradas como dignidades acidentais.

Espero que tenham gostado desta Série sobre as Casas!
Em breve darei início a uma Série sobre os Planetas.
Sugestões, dicas, críticas, são sempre bem vindos.
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Gratidão!

– Obs: Zoidia significa Signo, o conjunto de Zoidias ou Zoidions formam o Zodíaco.

Rafael Diniz;
Sírius Astrologia Tradicional.

Bibliografia Consultada:
– Introductions to Traditional Astrology: Abu Ma’shar & Al-Qabisi. Benjamin N. Dykes – The Cazimi Press.
– Hephaistio of Thebes – Apotelesmatics Book I – Traduzido por Robert Schmidt, Editado por Robert Hand, Project Hindsight.

(Imagem extraída da obra de Abu Ma’shar e Al-Qabisi, citada acima.)

Os Significados das Casas em Astrologia Tradicional – Casa IV

“A quarta casa é chamada de ângulo subterrâneo e o tempo da velhice. Significa o tópico dos pais, dos bens e dos assuntos ocultos, e a casa em que nascemos, as fundações e as coisas que acontecem após a morte.” – Rhetorius O Egípcio. Compêndio Astrológico Contendo Sua Explicação e Narrativa de Toda a Arte da Astrologia – Tradução do Grego por James H. Holden, M.A. FAFA. Na continuação deste texto, Rethorius cita o que ocorre ao nativo quando os benéficos estão posicionados nesta casa e também os maléficos, citando condições ligadas à Morte do nativo. Ele cita que Vênus nesta casa dá maus casamentos, mas uma velhice livre de labuta e problemas.

A Quarta Casa é uma Casa Angular, chamada de Ângulo da Terra, que versa sobre O Pai, a Família, nossa Morada, Terras e Imóveis, a Terra Natal, Ancestrais e o Fim das Coisas, e o que ocorre após a morte de alguém. No livro “The Houses – Temples of the Sky” de Deborah Houlding ela cita Firmicus Maternus sobre a Quarta Casa “tudo o que é relacionado com riqueza escondida e não recuperada”.

Na obra de Abu Ali Al Khayyat – O Julgamento das Natividades, do Capítulo 16 ao 19 ele fala sobre a Quarta Casa, onde ele demonstra como dar Julgamento sobre a fortuna dos pais, e as coisas significadas pela quarta casa. A duração da vida do Pai. A duração da vida da Mãe. E como encontrar o Hyleg da vida dos Pais. No Capítulo 37 ele fala sobre a qualidade da morte e suas ocasiões. Nesta análise ele leva em consideração o Ascendente e seu Regente, a Parte da Morte e seu Regente, O quarto Signo e seu regente, Planetas posicionados na Quarta Casa, o Regente da Quarta Casa por Triplicidade, o Senhor da Sétima Casa, O Oitavo Signo do Sol e seu regente e o Oitavo Signo da Lua e seu Regente (sistema de casas derivadas). À partir destes pontos é calculado o Almuten da Morte, de acordo com o Astrólogo Árabe. Neste capítulo vemos a associação clara desta casa com o tema da morte, assim como na obra de Rethorius, o Egípcio.

Alcabitius, na obra “Introductions to Traditional Astrology” – tradução de Benjamin Dykes, diz o seguinte: “Al-Andarzaghar disse que o primeiro senhor da triplicidade da casa dos pais significa os pais, o segundo cidades e terras, mas o terceiro o fim dos assuntos e prisões”.

Rafael Diniz;
Sírius Astrologia Tradicional.

– Estudos Astrológicos sobre Natividades – Milton Nascimento (Parte 2)


Retomamos aqui nosso estudo sobre a carta de Milton Nascimento, Escorpiano, com Ascendente em Touro, de Temperamento Melancólico, possuindo Saturno como Senhor das Maneiras . Lendo a biografia do autor, que é muito fidedigna às configurações de sua carta natal. Segundo sua biografia consta, ele teve problema com álcool ao longo de sua vida, olhando para o mapa natal percebemos o Regente da Casa 12 – Marte – afetando Vênus pela sua conjunção, Vênus que é regente do ascendente e está na Casa 6 junto à Marte. A casa 12 versa sobre vícios, seu regente em conjunção ao senhor do ascendente é um forte testemunho para vícios, ainda mais numa em que o ascendente não enxerga. Essa relação Marte-Vênus na carta e na vida de Milton tem seus vários momentos de materialização, vejamos:

Em 1968, Milton Nascimento casou-se na Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca, no Rio, com uma estudante chamada Lurdeca. Milton casou-se durante a Firdária de Júpiter-Vênus. Muitos poderiam dizer que devido ao fato de ser dois planetas benéficos regentes do período, pela Firdária, teríamos então um casamento feliz e longo. Mas, não é bem assim que observamos a Técnica Árabe chamada Firdária. Quando vamos analisar a Firdária, é importante levarmos em consideração os Significados Essenciais dos planetas envolvidos, bem como seus Significados Acidentais em relação à carta natal.


O período maior governado por Júpiter pode ser marcado por crescimento, oportunidades, expansão financeira, social, religião, sabedoria, desenvolvimento um período maior benéfico de modo geral – observando Júpiter por seus significados essenciais. Mas se observarmos a posição de Júpiter na carta e as Casas que rege, temos novos indicadores. Júpiter está em exaltação na carta natal, mas cadente na Terceira casa. É senhor da casa 11 e 8; Então neste período Júpiter pode materializar assuntos de Casa 11 (Ganhos, Lucros, Boa Sorte), Casa 8 (Perdas, Luto, Ruptura) e Casa 3 (Escrita, Composição, Viagens, Comunicação); Neste período Milton fez importantes amizades (casa 11) que o apoiaram e ajudaram na sua ascenção profissional como Elis Regina por exemplo. Neste período em que Milton se casou, O Regente da Casa 8 estava ativo.

Agora observando Vênus, poderíamos ter um período marcado por relacionamentos conjugais por seu significado essencial. Observando Vênus na carta natal, ela está posicionada na casa 6, em conjunção à Marte (Regente da Casa 7 – Relacionamento e 12 – Exílio, Problemas, Dificuldades). Mas Vênus é Regente do Ascendente, então temos a promessa de realização de eventos que sejam importantes na vida do nativo. De fato, neste ano Miltou Casou-se! Algo importante, Venusiano, ainda mais com Vênus conjunta ao Regente da Casa 7. Mas, Marte é significador natural de Rupturas, ainda mais posicionado na casa de seu júbilo onde se torna ainda mais maléfico na casa 6, estando esse Marte em exílio no signo de Libra e afetando não só o “Regente do ascendente”, mas Vênus como Significador essencial de relacionamento. Este período ainda tinha o Tom de Júpiter como Senhor da casa 8 que também indica rupturas, términos. O casamento infelizmente durou apenas um mês.


Para não escrever textos muito longos, que a maioria acha cansativo, encerramos aqui a Parte 2. Em breve voltamos com Parte 3!

Obrigado! Até Logo!

– Para ler a Parte 1 da Análise, visite:
https://siriusastrologia.tech.blog/2020/04/22/milton-nascimento-parte-1/

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Rafael Diniz.